sábado, 29 de novembro de 2008

Maré vaza



Agora que o silêncio da noite se cinge ao negrume, sinto que partes

Foi talvez o derradeiro dia.

O último em que as nossas mãos se deram, o último em que os nossos olhos luziram, o último em que os nossos corpos caíram mortiços no poço imenso do vazio. Peço-te, porém, que imagines a encenação perfeita do nosso último momento. Peço-te que a tornes sublime aos olhos do deus no qual me dizias acreditar. Peço-te que a desenhes com contornos definidos e cores destoantes, que tonifiques os elementos da composição e salpiques de estrelas apagadas o céu que nos abrigava no instante. Consegues imaginar? Emprega, então, todo teu talento fantasista nessa derradeira memória, aprisiona-a em frases curtas e finaliza cada um dos pontos finais com caneta de tinta permanente. Envolve as folhas bolorentas num tecido aveludado que se funda na mensagem, e arruma tudo numa garrafa de vidro selada e derrotada pelo tempo. Inspira fundo. Quando sentires que a hora finalmente chegou, lança tudo de chofre na onda irrefutável do infinito e espera que o mar leve para sempre tudo o que outrora representei, ou não, para ti.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ser, em Português.


Nada faz sentido agora que não estás.
A chuva sufoca em vagas, o convés e o mastro,
Permanecendo eu só, nada me apraz
Sentença descrita, esculpida em alabastro.





segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Outro jardim, lúgubre.


És o presente, és o agora.
És o porto seguro onde me abarco,
E rebato em ti, nefasto
Caravela seduzida pelo abismo dos sentidos.
E não existirá hora da partida,
Enquanto partir e levar a minha alma junto da tua,
Âmago fora.