Não corria a mais leve aragem, quando a cidade se refastelou na porltrona de todos os dias a assistir ao noticiário das oito em ponto - permaneci indiferente ao súbito suspiro rotineiro. Entrei no elevador - deserto. Premi o '0' e preparei-me para o jogo mental que fazia sempre que me encontrava num elevador: debater-me contra a possibilidade de um dia querer sair de um e não ter oportunidade. Lembro-me ainda de me ter cruzado no hall de entrada com a senhora do 1ºD, que de robe às florzinhas e chinelos de quarto do tipo "refugiado de guerra" empunhava a correspondência carrancuda - saí.
Não me lembro de mais nada. Acordei deitado na cama, com a roupa vestida, alagado em suor e com a sensação de que algo de muito estranho acontecera naquela noite. E para não variar, foi no duche que as peças do puzzle se começaram a encaixar - tu estiveras lá. Tu passaras por mim na rua. Tu que me havias seguido para aquela viela. Tu que escutaras os meus gritos abafados pelas árvores daquele jardim. Tu que pararas o baloiço que eu deixei agoniado naquele parque infantil. Tu que conseguiste entender a minha fúria para com o mundo naquela altura em que as centenas de pontos de luz, desenhados por mim no céu, se apagaram. Tu, só tu.
Tu que estiveras sempre presente, na minha ausência.
(...)
Não me lembro de mais nada. Acordei deitado na cama, com a roupa vestida, alagado em suor e com a sensação de que algo de muito estranho acontecera naquela noite. E para não variar, foi no duche que as peças do puzzle se começaram a encaixar - tu estiveras lá. Tu passaras por mim na rua. Tu que me havias seguido para aquela viela. Tu que escutaras os meus gritos abafados pelas árvores daquele jardim. Tu que pararas o baloiço que eu deixei agoniado naquele parque infantil. Tu que conseguiste entender a minha fúria para com o mundo naquela altura em que as centenas de pontos de luz, desenhados por mim no céu, se apagaram. Tu, só tu.
Tu que estiveras sempre presente, na minha ausência.
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Ricardo Leitão