segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Fado, em mim.


Cantai, ó almas ingratas!
Esculpi tons harmónicos,
Nas velas das vossas fragatas.


Aventurai-vos pela cordas vibrantes do destino. Senti o leme bem prostrado e o vento bater-vos nos cabelos. Não desistais à primeira onda de infortúnios. Não hesiteis à segunda. Confiai na volúpia do arco, confiai na audácia das trombetas e ousai cantar recordações. Não nasceis derrotados, cresceis derrotados, ou nem sequer tereis o prazer de morrer, derrotados ou não! Enquanto houver alma lusitana, não estareis sós. Respeitai o choro da nossa guitarra, atemporal. Temer, temei antes o seu silêncio. O instante é o momento, e o medo é o pesadelo do qual nós, herdeiros de Camões, já acordamos há muito tempo!

Esperança - o fado ainda é nosso.


r.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Fado, para ti.



Natal.

Passaram mil e oitenta e sete dias, dez horas, sete minutos e meia-dúzia de segundos - tenho-os contado. O ciclo vicioso estende-se e eu continuo sem apreender o real sentido das coisas. Nunca cheguei a perceber o porquê de termos sido os escolhidos para revelares toda a tua fúria para com a Humanidade. Conseguiste estragar tudo e transformar a festinha das luzes no poço mais sombrio e profundo. No entanto, eu perdoo-te porque me deste a capacidade de metamorfosear a minha envolvente e de conseguir encontrar bonança, tempestade após tempestade. A verdade é que consegues tornar-me útil aos outros e fazer com que eu seja capaz de sentir que continua a haver Natal para toda esta gente. É suficiente. Isso basta para que eu alimente cada um dos meus sonhos com as recordações das quais tu fazes parte. Consigo ver-te na primeira fila, ouvindo-me cantar o fado de olhos bem fechados. Consigo sentir o teu beijo na minha testa, depois de cada um dos "brilharetes", e não precisava de ouvir-te dizer-me o quão orgulhosa estavas de mim, para que o soubesse. Era capaz de te ver novamente escapando-te para a cozinha a rir, após ter elogiado os teus cozinhados, mesmo que o fizesse sempre comparativamente aos meus. Consigo sentir os teus olhos irradiarem um brilho particular, quando eu chegava da escola e tu esperavas junto ao jardim para me abraçar e perguntar quantas vezes tinha surpreendido a professora naquela manhã. No fundo, moldaste-me uma personalidade capaz de sorrir para as orquídeas que cresciam dentro e fora de ti, em ramos floridos e enérgicos. E era singular. Era singular o dom de me fazeres sempre acreditar em ti, no que dizias, no que sentias e no que idolatravas sem constestação. Ontem, hoje e sempre. E não haverá, jamais, conclusão possível para tudo o que te quereria dizer neste Natal... e até poderiam retirar o teu lugar da mesa, na ceia, que jamais o tirariam da minha alma, que preenches diariamente e alimentas de utopias, versos e génio. Continuas a iluminar o meu cérebro, continuas a alimentar as minhas ilusões, continuas a ler a minha mente e a transfigurar esmorecimento em alento. Descansa quanto ao que me pediste. Continuo a (tentar) seguir sempre o coração, se bem que ele me tem traído nos últimos tempos.



Para ti,

avó.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Era uma vez.



" Era uma vez um sentimento. Era uma vez uma alma. Era uma vez uma rua mergulhada nas brumas tumultuosas da amargura. Era uma vez um corpo desconexo, sem rosto, sem identidade, sem luz. Era uma vez um sonho, era. "