sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Uma varanda, sobre'tudo.

Aquela noite mudou muito.

Fino, ovo estrelado afundado no prato e palavrões em castelhano contra a sistemática mentira do futebol. O regresso foi muito mais do que todos os pontapés às pedras do caminho. Eu era fúria; tu, não percebi se eras tampouco. O ano tinha sido uma guerra, tu sabe-lo bem: andamos a saltar de trincheira em trincheira à espera do primeiro tiro. Fomos carne para canhão, ambos fractura exposta à mercê deste micróbio todo. Acabamos por aprender a bater pernas neste sargaço, já que recusáramos aprender a nadar nele. E foste fiel até ao fim - o teu canto sempre atento ao zum-zum matinal, a observar, a absorver tudo sempre com sentido de tacto e "força de boa vontade".
Aquela noite mudou muito, tu sabes que mudou. Veio o estardalhaço, o cenário, a revolta e a consciência de que era preciso jogar, era preciso agarrar o leme e fazer acontecer. Não houve qualquer lágrima. No entanto, tu sabes que no fundo eu chorava pra caramba! Quem gosta gosta, nada a dizer. Tinham-me sacado o tapete de debaixo dos pés. Sentia-me um paralítico em pleno moche, atropelado de dois em dois segundos por um desconhecido diferente. E arrisquei! Dois berros, chapada na tromba do sonhador que nunca conseguiu mais do que poesia barata, all in naquela noite que trouxe muito mais do que relento gelado. Hoje não mudava uma vírgula da estória. Por muito imperfeita que seja, é a minha. Sei que aos poucos vou aprendendo a conviver com o diabo que vai zumbindo do lado do ouvido esquerdo daquela cabeça. Mas acredito. E acredito que tu serás bem mais, se acreditares mais também.


Porque aquela noite mudou muito,
mas não mudou tudo.



(de Fê-Fê, para Fê-Fê.)